domingo, 7 de novembro de 2010

Reflexões de aniversário

Porque pessoas dificultam coisas, porque as relações são cruéis e duras, porque eu vejo e me calo, porque eu sofro e me calo. Porque me dói. Porque esse ofício de ser gente me cansa. Porque ser verdadeiramente me cansa!
Porque deveria ser mais fácil. Porque não é!? Porque o simples se complica, porque o mais fácil é ser cruel e duro!
Porque gente é triste, porque relação é dura, porque tudo é vida dura!

Em 07/11/10

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

(RE)memorando


Chego em casa bêbado, assim estou agora. Penso e repenso. O dia, o filme (Dzi Croquettes), os amigos, os papos, os rumos. E vem aquele: está tudo errado! E depois a sensação de que tudo foi a frente e eu não. Vem um tanto de coisas. E eu fico aqui, entre uma golada e outra deste rum amargo, pensando em como fazer para sentir-me realizado. Eu, este artista em alma e medíocre em ações. Este artista possível, mas sem concretude. Eu, ora certeza acadêmica, ora dúvida glamurosa. Eu, isso tudo. Esse drink, essa culpa, essa merda, esse mendigo que dorme na porta do prédio no frio e, por fim, essa minha falsa complascência com este mundo que me circunda. Eu, esse ser que sente, sente , sente e não se descama. Esse que ultimamente só reclama. Este que nada! Que nada! Que mergulha, que procura, que perde o ar, perde a calma. Que procura e procura. É para você, para mim, que preciso rememorar. Leia amanhã, e depois e depois e reveja tudo. Toda esta merda/mesmice em que está. Agora em tópicos:

*Se exponha, se rasgue, se venda;
*Atua sozinho, representa;
*Erre, mas faça;
*Desista;
*Refaça;
*Se lança, se joga na dança;
*NÃO SOFRA, FAÇA!
*Escute Elis Regina;
*Fume maconha;
*Se eternize, aconteça;
*Grave vídeos para o youtube, transpareça;
*Busque a sombra do futuro, esqueça;
*Leia essa mensagem e pense, álcool na cabeça;
*Esqueça!

03/08/10 (SEJA!)

sábado, 15 de maio de 2010

MIMADO e BOBALHÃO

Eu sempre fui assim! Esse filho único, escorpiano, esse poço cheio das profundidades mais profundas e sozinhas, esse egoísmo, essa chatiação. E se isso para alguns é personalidade, para outros é irritação. E é normal que assim o seja, mesmo que para mim, no fundo, só quero que entendam e me dêem aquele abraço apertado, ou acalmem meu coração.
Não peço que me entenda e nem peço que aprove, mas o que não cabe em mim é ver que o que antes agradava, agora vira palavra na ponta da língua pronta para ser rebatida. E que a culpa é toda minha, a culpa é das ações que saem de mim por toda parte. E que em você geram a tal da reação.
Mas se antes reagir era abraço, agora desgastado é ReBate, DeBate, é o que me Bate fundo no peito e na razão.

A CULPA É MINHA! VOCÊ ME FAZ PARECER UM LOUCO! EU SOU UM LOUCO?! A CULPA TODA É DA MINHA MÃE! CADÊ MINHA MÃE?!

E esse menino mimado, que quer sempre ser visto, hoje não se vê e não quer mais ver ninguém mais não. Não quero que me olhe fundo, não quero que me falem tudo, não quero que me toquem em nada. Não atendo telefones, não saio da sala, leio, leio e leio, perambulo entre silêncio e escuridão. E você vai e vem e vai e vem.
E eu fico! Como fiquei ontem, como vou ficar mais e mais. E eu que nunca fui de ficar, agora não sei mais aonde é nunca, aonde agora é o sou. Não sei mais de mim, tô sem saber de nada. Sei desse amor que é estrada, ora longa, ora devastação.
E fico eu aqui, com esse bico de criança, pijamas e meia, mimado e bobalhão!

Rio, 15/05/10

domingo, 4 de abril de 2010

Sobre Ser e Escutar


Sei que é aqui que você vem para ler-me. Que aqui busca o entender, o compreender, o aceitar. Aqui busca algo que te faça me decifrar, este ser gangorra de emoções. Este ser que aqui está.
Sim, é aqui que eu venho para me rasgar. Mas é também aqui que falo o que é preciso para te machucar.
Não, não quero ferida profunda. Quero ferida que rompa a superfície e te faça falar. Falar para mim, sem metáforas. Falar, falar, falar...
Mas este sou eu. Este que fala sem parar sou eu. Você é o outro, o que cala, o que deixa pra lá. Mas e daí, que novidade há de subverter agora depois de tanta coisa devidamente adequada?
Nada deveria surpreender.
E então você fala. E sou eu quem assume o calar. Tenho medo do que pode me acontecer, medo do que irei escutar. Logo eu que quero sufocar esse teu silêncio cheio de palavras. Logo eu que ora é isso e ora nada. Sim, sou eu que tenho terror de te escutar.
E eu, gangorra de emoções, deixo-te só. Como marinheiro que navega em mar remoto, em maremoto. E você, coitado, só, fica ali, a me decifrar, a se adaptar.
E eu que sou tudo, esse montão, fico lá. Aguardando seu barco estabilizar. Egoísta, deixo você na minha onda. Não consigo te olhar.
Meus olhos dizem muito. Prefiro adentrar-me, prefiro te evitar. E você sente, sei que sente. Eu sinto, mas não cuido. Deixo estar. Sou eu quem deixo estar.
E você fala. É verdade, é o que pensa, não é pesado. O peso sou eu quem dá. Não, não é culpa sua, por favor, não deixa de se expressar. Eu é que talvez não saiba escutar. É, eu não sei escutar. Eu que me defendo de tudo. Eu que amo argumentar. Eu, da natureza do convencer. Eu e isso tudo, é de família, sei lá!
Porém, sigo eu com meus olhos de vampiro, evito teus olhos para neles não me espelhar. E tenho medo das tuas palavras. Elas não são baladas, são razão, lucidez e defesa.
"É preciso me preparar. Para não ser pego de surpresa." E o que mais eu posso falar? Eu que achava que estava tudo bem, eu que pensei até em casar, em casa?! Meu Deus, é de desesperar! Não o que você me diz, mas o que eu posso esperar de mim e do meu fim.
Sim, acho que você está errado! Mas sei lá, o que eu afinal posso achar. A gente não conversa. A gente não fala. Cada um acha o que deve achar.
Aí vem você vem aqui, me lê e eu fico a esperar. Suas palavras ditas, para eu mal-interpretar, seu olhar escondendo pensamentos, seu autismo milenar.
Mas a culpa não é sua. Sou eu que não aprendi a me controlar. Sou eu que agora não sei o que pensar!
Desculpa, se é que é preciso pedí-las. Culpas, se é que é preciso sentí-las. Ai, quanta tontura! Eis a terrível dor do dialogar.

Escrito em 04/03/10 (Desenho da mesma data)

Incompatibilidade de assuntos


Prevaleça esse silêncio
Certamente é melhor do que a verdade não dita
Essa verdade que você cala
Essa que você desiste de falar
Porque eu nunca entendo
Porque eu estou sempre certo

E a nossa conversa
Que nem debate chega a ser
Que é voz vazia de uma lado
E silêncio cheio do outro
Esvazia, assunto bobo
Vira bomba
Toma conta do espaço

Aí, eu acabo com tudo
Fico mudo
Levo a culpa
Assumo-me intruso
Estabeleço o "climão"
Faço a "maluca"
Evito um palavrão

Termino o jantar
A comida empanturra
A bebida, amargura
Eu exagerado
A conta, jogo de sinuca
Ai, incompatibilidade!
A cabeça murmura

Largo do Machado, 4 de Abril de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

per FORMA ti CIDADE


Existe uma arte que passeia pelas ruas, uma arte que chega até as pessoas, uma arte que vai até elas porque se iguala, porque se suja nas calçadas, porque conversa com mendigos, porque é parte da arquitetônica cidade.
Essa arte ora performática, ora trovadora, ora nada, porque nem nome tem, porque não se formula formas sobre coisas realmente efêmeras e essências.
É ela que tem chamado meu nome, tem grudado em minha alma, tem bagunçado meus sonhos e que tem feito brotar de mim estas palavras convulsivas.
Não tenho pretensão de aqui teorizá-la ou torná-la escritura informatizada. Apenas apresento-lhes a minha mais nova pílula de arte animada. Que me faz pensar, riscar coisas, ver imagens embaralhadas.
Tô adorando essa cidade performática, essa poesia remixada que se abre aos poucos para mim.
Hoje quero ouvir o povo da rua, os passantes, a galhofada. Por ora é isso, de salas e luzes nananinanada!
Filosofia desconexa em 25/03/10.

quarta-feira, 10 de março de 2010

AMA(en)DURECER


Foi dada a largada e a corrida contra o tempo, contra a decepção, contra os aniversário é tão veloz que faz doer minhas pernas, cabeça e coração.
Ter sono é preguiça, comer demais é dispendioso, internet é falta do que fazer. E mesmo que os olhares preocupados dos pais não ecoem a minha volta, cobrando-me, como vozes do além, são as minhas cobranças em gritos que me atordoam cada vez mais e mais.
É preciso ter paciência, foco, seriedade, força, coragem. Mas a ansiedade de construir palácios que abrandem tudo o que ainda não criei acaba, muitas vezes, me fazendo tropeçar e desandar.
E os anos passam como em um relógio que conta as horas de trás para frente. Se o apogeu vinha aos 25, reza-se agora para que ao menos o caminho surja até os 30.
A ausência de irmãos, a sexualidade que não trará a continuidade, os pais envelhecendo, o cuidado virando um peso financeiro, a solidão da incerteza. E o medo, o medo, o medo.
Pego um caderno, traço planos, acredito, espero, controlo a ansiedade, faço ouvido de mercador, rezo para acertar.
E enquanto isso, o tempo rindo de meu desespero, passa rápido para pressionar-me , mas arrasta-se para realizar-me.
10/03/10

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre sentimentos e palavras...


Sinto algo que não sei nomear. Uma impotência diante da vida e do avançar do tempo. "É chegada a época das perdas", disse minha mãe há pouco. E lá estava ele, apenas uma imagem fraca e envelhecida do que não gostaria de ter sido. O que construiu ruiu, virou nada. A casa está abandonada, a mente debilitada, a dignidade aviltada. Usa fraldas, age como criança, repete as falas. E fala, fala...
Não tenho por ele um amor que possa comparar com outros que sinto, mas por ele sinto um lamentar de Ser Humano, de ser igual e de poder (rezo para que não), estar neste mesmo lugar amanhã.
Tanto trabalho para nada. Tanto dinheiro, tanta fartura, tanta ostentação. E não ficou nada. Apenas os ressentimentos que plantou e a imagem de muralha que construiu desde a infância para se proteger. E isso é só o que sei. Por que o resto nunca me disse e não mais saberei.
Macas, arrogâncias, desconhecidos e solidão. No fundo, ao canto, ele, sem agulhas, sem remédios, sem carinho, sem atenção. Sem nada. Rebelde. Rugindo baixo como leão que já não tem mais função.
Todos se calam. Minha mãe finge sorrir, não ligar, deixar pra lá. Mas corre nas veias dela algo ainda mais sem nome do que estas tantas palavras avulsas. Corre na veia uma culpa, um lamento, um desespero, uma preocupação. Um monte de coisas que ela finge não sentir. Que ela, como ele esconde atrás de muralha construída. Uma força que vem distante e um orgulho de quem nunca quer se sensibilizar.
Assim, não sei o que sentir, apenas lamento e rezo para o que há de vir, venha apenas nos fazer prosperar.
Rio, 28/02/10

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ME SEGURA!

Por favor, não me deixe sair de você, me segura!
O medo me carrega pra bem longe daqui!
Eu juro que tento vencê-lo e permanecer,
Mas as paredes são muito altas
E vão crescendo sem se conter
Mas eu ainda as pulo
E picho nessas em letras pequenas e arredondadas
Todo o meu amor por você, que saí tímido e miúdo
Temeroso de não mais ser,
Mas que por dentro explode insanamente
Desesperado em não perder você!
Me segura não me deixando partir!

Mesmo dia, porém sem imagens para este!

Para não esquecer


Um vontade de fugir por aí, em busca de nada, apenas eu, vc e uma mala!
E a vida carregando a gente feito barco.
Mas o vento passa e pára a gente como placa que fica estacada no meio da rua,
Apenas para regularizar o fluxo do mundo,
Enquanto nós, ficamos lá, a espera e a procura de nada!

(final de 2009, início de 2010)

Esse sei lá que não me satisfaz...


De repente você virou meu tema recorrente
Você que era vida vivida cotidianamente
Você que era amor e mais amor e mais
E aquele coração palpitando, que beleza
Virou um nó de incerteza que não pára de incomodar
Não quero o Boa noite de quem esqueceu como se ama
Não quero a rotina dos casamentos de sacristia
Quero o seu querer puro e simples
Como sempre foi, assim ou mais
Menos você sabe bem que não me atrai
Mas você agora daqui, não sei
Não sei porque, não o que te faz assim tão lá
Quero ouvir a verdade que me aquecia a alma
O mimo que me engrandece e satisfaz
Mas você não faz, se faz é pouco
Não me diz, não diz nada
Tem medo, dorme e não tem mais nada
Só o durma direitinho e?
E nada que me faça sorrir e dormir em paz!
Se bem conheço esses sinais, sinto desde já
O amargo gosto de quem não me quer mais!

27/01/10
(imagem retirada da internet, com assinatura de Andréa Ferraz)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

DESDÉM


Reclamo da distância que nos separa sem estarmos longe,
Você comenta a apresentadora da TV.

Digo que sinto sua desistência,
Você emite um som estranho e muda de assunto.

Fico calado envolto em sua voz muda de comentários superficiais.
Você não percebe, vai tomar banho.

Penso que estou louco, que é apenas uma fase, que o desdém faz parte deste seu autismo natural.
Você é lacunar, eu continuo sem saber.

Sinto que os muros levantam-se lentamente (Tento ainda segurá-los).
Você me perde gradativamente, sem saber (Porque parece ser irrelevante para você)!

Reflexão de Merda, mal-escrita agora (27/01/10)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Quem não quer ouvir, não pergunta!


Foda-se você e o seu carnaval! Não se ofenda com as ofensas que não são suas!
Entender-me não é a cogitação, respeitar-me sim! Sinto assim, sou assim!
Não compreendimento não onera meus sentimentos. Por isso mesmo: Tanto faz!
Se quis ouvir o que me dói, não me culpe pelos respingos que te ardem e remoem.
Poderia ter dormido sem essa! Poderia ter dormido sem isso!
Se para você é pouco, para mim, o todo é menos ainda!
Porque por ser mais, não quero o que não preciso.
De resto, fique com as cinzas destes dias de brilho!
O que eu quero está mais e bem mais além
E renasce todo das poucas cinzas desta falsidade que os faz sentir bem!
Foda-se a "briguinha" e seu tom professoral.

Agora! (Mesmo dia do último post)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Essa gente carNavalha


Pela passarela desfilam todos
São coloridos, cintilantes, bailarinos
Vestem suas fantasias de cordeiros e perús e faisões
Paramentam-se de sorrisos, brincadeirinhas e abraços apertados
Mas quando paro olhar, vejo lobos e hienas e cobras e lama
E aquela gente carNavalha vai se esgueirando
Contorcendo-se em olhares de gente pouca, gente pequena
E o que é brilho ofusca, o que é riso é mal
E tudo o que deveria ser
Vira sujeira
Disputa
Brincadeirinha de Carnaval!
Sapucaí, 21/01/10

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Desesperados Fragmentos da minha Rotina


Acordo, lavo a louça, arrumo o quarto, finjo controle sobre minha vida. Pego dinheiro emprestado, fico na internet, fico preso à internet, sugo a internet, finjo estar aprendendo com ela. Confundo minha cabeça de imagens e informações. Vou ao banheiro e penso que preciso criar. Vou a cozinha e penso que preciso dar um rumo a minha vida. Como e penso no futuro. Lembro que não tomei banho, saio da net. Acabo de ler a última página do primeiro capítulo de um livro que estou lendo. Sinto uma sensação de dever cumprido. Vejo que faltam muitos outros capítulos. Me desespero. Penso em desistir do livro. Depois penso que preciso terminar os ciclos que começo. Olho para porta, seu entorno está repleto de post-its coloridos com lembretes de coisas que continuo esquecendo de fazer. Não esqueço das coisas, simplesmente enrolo para realizá-las. Volto para a net, escrevo em meu blog. Penso: Ainda não tomei banho! Preciso sair daqui. Me proíbo de abrir novas guias. Me proíbo de olhar o twitter. Me convenço de que não há novos recados no orkut. Me desespero de novo. Penso em uma imagem que reflita tudo isto. Sinto saudades dos outros. Depois quero ficar só. Aí não quero mais. Preparo uma cuba-libre. Penso: Beber sozinho? Alcoolismo. Bebo mesmo assim. Páro de pensar, ligo a TV. Esqueço o que estava pensando. E assim vou levando. Por que?
Em casa, 19/01/09

sábado, 16 de janeiro de 2010

Propaganda Enganosa


Nesta busca insana pela verdade verdadeira mais instantânea, pessoal e impactante, passei a observar o que há de imagem de mim neste mundo que agora é só delas, as imagens.

Vi que sou escravo daquilo o que quero mostrar, daquilo que quero ser, daquilo que nunca serei, daquilo que já fui, e que isto varia de acordo com cada relação que estabeleço e que, na verdade, há verdade em cada um desses rostos que refletem o que quis fazê-los imaginar, porém refletem também o que não sou.

Assim, nesta complexidade de auto-conhecimento declaro que a imagem que se vê de mim não é mais. Há muito mais, ou muito menos, isso depende de a quem me refiro. Fiquem atentos aos que vêem a sensualidade, o glamour, a bem-aventurança, o promissor, o sucedido. Porque certamente quando me vir perante ao mar, com a água fria lavando meus pés e a quente dos meus olhos ajudando a amorná-la, verá que em mim há também, e demais, aquilo que está sempre prestes a quebrar, a romper, a desfazer, a rasgar.

Sou a incompletude daquilo que construi até então. E o que quero, ainda está muito a frente, tão distante que ainda não há imagem para traduzir.

Não sou forte como parece, não sou grosso como parece, não sou radical como parece, não sou decidido como parece, não sou o tanto mais o que lhe possa parecer. O que sou? A partir de agora passo a tentar descobrir genuinamente. Por ora, sou o que melhor lhe parecer, contanto que parta apenas da verdade do que eu lhe disser, não do que eu lhe aparentar!

Botafogo, 16/01/10


MEDIOCRIDADE


O ano que passou me tragou feito boca de caminhão de lixo e até agora não sei ao certo se fui eu quem me atirei ou o contrário aconteceu. Sei que, depois que saí de lá, devidamente amassado e mastigado, muitas coisas ficaram ainda mais confusas aqui, do lado de fora da muvuca do ano que se foi.

Ainda ontem me vi sozinho, porque os amigos se foram e se vão, eles sempre vão, por mais que eu tente incessantemente trazê-los e mantê-los como um imã, para evitar a brisa temerosa de solidão, eles se vão. E se foram. E eu fiquei!

E então, na opcional solidão desesperadora, tentei enganar-me pensando que minha vida é meu trabalho e que como tal, não estou só, porque vivo para isto e blá, blá, blá. Por um momento acreditei na minha própria mentira e fiquei confortável brincando de casinha, numa casa que sequer é minha de verdade.

De repente, e talvez tenha sido a constatação a seguir o auge de meu desespero, percebi que arrumava as coisas pela casa sem parar. E que me comportava como em um comercial de Tv, onde as casas tilintam beleza ou ainda em um seriado norte-americano, onde morar sozinho é COOL.

No entanto, meu surto de organização não passava de uma tentativa patética e frustrada de tentar organizar minha vida, que parece estar perdida em meio a estes milhares de pensamentos que me questionam a todo momento qual o caminho do presente devo seguir para alcançar o futuro. Este futuro tão ambicionado que tarda cada vez mais a começar a se estruturar.

Assim, sentei em frente a Tv, tomando um copo de algo alcóollico e temi que aquele fosse o meu futuro, que ali estaria eu mais uns anos a frente. Pensei em ler, escrever. Desisti. Me acomodei e me calei. Não sei se cochilei ou encachacei. Acordei com um Haiti aos pedaços assim como eu e eu, que até outrora me sentia o centro do mundo em minhas lamentações, me senti ainda mais pequeno. Impotente!

A mesma impotência que sentia aquela menina negra deitada no chão, que olhava assustada para a câmera, era a minha ao olhar para ela e lamentar por não estar lá, ao lamentar por nunca ter me interessado por tudo aquilo, ao lamentar por minha arte ser tão pequeno burguesa e inexpressiva. Chorei sozinho.

Agora, aqui estou eu, de volta, depois de muito enrolar e me boicotar, eu e minha mediocridade estamos aqui, escrevendo estes parágrafos para sei lá quem, pensando se alguém chegará até as linhas finais de um texto longo como este. Ficamos aqui! Eu, minhas dúvidas e ambições. Eu e meus projetos sem concretude. Eu e esta minha solidão!

Botafogo, 16/01/10
(Imagem original de Cesar Huerta, encontrada na internet, remexida por mim)