quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A insuportável morte por não te ter

Eu estou matando você. Em legítima defesa, eu estou matando você. Pouco a pouco faço incisões neste coração para cortar você, visgo maravilhoso, que agora me envenena. Não é você que me envenena, sou eu que não suporto não te ter. Eu estou matando você para salvar o que de mim ainda resta de pé. Resta ainda muito de pé. Mas por doloroso desprezo, estou me preservando de você. Eu não sou como você. Eu não sei não te ter. Há ainda remédio, são baratos os remédios. O medo é que a cicatriz demore a desaparecer. Eu estou matando você em mim, tentando desesperadamente fazer você desaparecer. Eu tenho medo de sofrer. Estou forçadamente destruindo você. Prevenção é queda pouca. Estou, em dores e contorções, arrancando à força você! Com dó, sem piedade. Estou condenando você. A culpa é minha, a distância é sua. Estou, dor no peito, expelindo você. Primeiro pela razão, depois pelos poros, um dia, do coração.
21/12/11

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O espelho do teu olhar

Acho que você olha para mim e pensa, sem dizer: 

Adulto bobão, imaturo, adolescente, infantiloide, filhinho de papai, pequeno burguês, inconsequente, chato, dramático, exagerado, irresponsável, acomodado, preguiçoso, prepotente, egoísta, arrogante, escroto, desinteressante, desinteressado, galinha, temperamental, merdinha.

Isso me incomoda, mas como não é dito, não posso rebater.
Assim, só para amenizar a alma,
E de alguma forma te responder:
- Sim, eu sou isso tudo (também).
E não, não tenho problema em reconhecer!
Ainda assim, amo você!

19/11/12



Leitura equivocada

Acreditava saber das profundezas do ser.
Mas a lente que te olha tem o meu foco de saber.
Ou o de pensar saber.
Pois vejo aquilo o que quero ver.
Eu vejo a mim em você.
As projeções de expectativas.
As inseguranças supostamente lidas.
Os sinais que minha mente juram reconhecer.
Eu não conheço você.
Eu não conheço ninguém.
É só o meu o olho pensando que tudo vê.
Meu olho lê aquilo que eu penso saber.
E percebi hoje, calado por você,
Que eu não sei ver.
Que eu talvez nunca tenha sabido ler.
Que as impressões são construídas ao meu bel prazer.
Que eu construí e construo pessoas,
E elas nunca vão saber.
Não entenderão nunca.
Pois tudo depende do olho de quem vê.
E quem vê associa tudo ao que acredita saber.
Só o que sei agora é que eu não sei nada.
Eu não sei nada de você.
Era só uma vidência boba.
Suposição barata.
Essa leitura equivocada é prepotência do ser.
Eu brincava de resumir você.
Eu pensava realmente saber.
Não sei de nada.
A culpa é minha!
Eu é que subjuguei você.
Em 19/12/11

Amar é...

Amar é uma prisão humilhante!
Amar é uma idiotizante prisão!
Amar é depender!
Amar é desesperar-se!
Amar é ser egoísta!
Amar é machucar!
Amar é fragilizar!
Amar é foda!
Amar é uma merda!
Amar é fazer mal!
Amar é sofrer!
Amar é  se perder!
E amar é estar com você!

(em 19/11/12)

domingo, 18 de dezembro de 2011

E você não vem...

Eu deveria sair de casa agora e me entregar, pedaço por pedaço, a todos estes outros que passam a me querer.
Entregar estas partes indigestas e sangrentas, cheias desta azia que é você. Você que me aprisiona, você o que me repulsa.
Poderia ser ex-seu e de mais ninguém. Ser esse alguém avulso, sair junto de gente que me quer bem, seja para o mal ou seja para o bem.
Poderia também encher a cara, brincar de Amy, culpar inconsciente este amor que hoje não me faz nada bem. Queria era ser só seu e poder dizer: - Sou seu e de mais ninguém.
- Venha, me abrace agora! Me surpreenda, me contenha!
Mas você não vem. Eles, os outros, vem, sempre vem! Estão aqui a me rodear. E eu digo não. Eu que deveria ser a caça, presa fácil, estou hoje um nada, uma lacuna, uma massa acomodada que chamam pelo meu nome. Meu nome agora, o qual não escuto ser chamado ao longe, devia ser sofrimento. Ou deve ser apenas esse silêncio inquieto que me retém. Ou talvez não seja nada, nem ninguém.
Escrevo estas palavras, suspirando fundo, com um aperto que só o meu peito contém.
Só queria ser seu e de mais ninguém!
Mas, espero, e você não vem! Há muito você não vem! Você nunca vem?!

18/12/11 (17:12h, sozinho e esperando você)

sábado, 17 de dezembro de 2011

Para a mulher da barriga pendurada!

Eu tenho que lhe dizer, porque se não disser essas palavras amargas de profunda irritação, elas envenenarão a mim e não a você. Você que nem merece meias palavras, muito menos poemas, será aqui, por mim, devidamente homenageada. Você, grande poça de hipocrisia, você que finge ser a mãe mais distinta, você que é quase puta de estrada. Você que brinca de ser a madonna amada, com enormes seios gordos. Aliás, sobre a gordura, toda essa sua gordura, é melhor não se falar nada. Afinal, gordura não é assunto de poema. É melhor chamá-la então de vaca.
E pobre da bichinha, que além da gordura, não se assemelha a você em mais nada. Você e suas patas de leoa, que come a presa nupcial para suprir a falência de toda uma vida sem conquistas. Come o dinheiro dele como quem como grama, aí está, outra semelhança com a vaca. E agora você, essa mulher que humilha toda a raça, que dorme no quarto e sala, mas ostenta no corpo toda essa prata barata. Você que não é de nada. Você, barriga pendurada, máscara maquiada escondendo essa língua de cobra naja. Mulherzinha baixa. Que agora, com remorso, busca suprir sua falta. Você que tudo o que quer é conseguir uma casa, com dinheiro dos outros. Você, amante de todo homem que passa. Você que há de pagar essa tua língua. Você que há de ouvir de mim, pessoalmente, muito, com muitas outras palavras amargas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sobre implorar amor (Ou sobre auto-fragilidade)

Revelar amor me dói. Não quando é convencional, não quando é essencial. Mas quando é em público, quando é para o público, quando é profundo. Porque amor que é fundo fragiliza. Porque amor que é fundo minimiza o garanhão que se criou até agora. Porque amar tão fundo é tão bobo e inútil, que ninguém liga. Eu não ligava.
Revelar amor dói. E eu disfarço, teorizo, desmistifico, rotulo. Tudo para não me entregar. Tudo para ninguém me pegar no pulo da solidão profunda que me assusta. Não quero que me vejam dependente de um amor tão puro, não quero minha autonomia e auto-estima diminuídas em um segundo.
E porque sei ser mesquinho isto tudo, jogo aqui as palavras de um noturno, que gasta falas de liberdade e depois as deita, sem sono, na insônia deste amor que me faz sentir pequeno, exposto, inseguro e burro.
Madrugada de 08/12/11