domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre sentimentos e palavras...


Sinto algo que não sei nomear. Uma impotência diante da vida e do avançar do tempo. "É chegada a época das perdas", disse minha mãe há pouco. E lá estava ele, apenas uma imagem fraca e envelhecida do que não gostaria de ter sido. O que construiu ruiu, virou nada. A casa está abandonada, a mente debilitada, a dignidade aviltada. Usa fraldas, age como criança, repete as falas. E fala, fala...
Não tenho por ele um amor que possa comparar com outros que sinto, mas por ele sinto um lamentar de Ser Humano, de ser igual e de poder (rezo para que não), estar neste mesmo lugar amanhã.
Tanto trabalho para nada. Tanto dinheiro, tanta fartura, tanta ostentação. E não ficou nada. Apenas os ressentimentos que plantou e a imagem de muralha que construiu desde a infância para se proteger. E isso é só o que sei. Por que o resto nunca me disse e não mais saberei.
Macas, arrogâncias, desconhecidos e solidão. No fundo, ao canto, ele, sem agulhas, sem remédios, sem carinho, sem atenção. Sem nada. Rebelde. Rugindo baixo como leão que já não tem mais função.
Todos se calam. Minha mãe finge sorrir, não ligar, deixar pra lá. Mas corre nas veias dela algo ainda mais sem nome do que estas tantas palavras avulsas. Corre na veia uma culpa, um lamento, um desespero, uma preocupação. Um monte de coisas que ela finge não sentir. Que ela, como ele esconde atrás de muralha construída. Uma força que vem distante e um orgulho de quem nunca quer se sensibilizar.
Assim, não sei o que sentir, apenas lamento e rezo para o que há de vir, venha apenas nos fazer prosperar.
Rio, 28/02/10