
O ano que passou me tragou feito boca de caminhão de lixo e até agora não sei ao certo se fui eu quem me atirei ou o contrário aconteceu. Sei que, depois que saí de lá, devidamente amassado e mastigado, muitas coisas ficaram ainda mais confusas aqui, do lado de fora da muvuca do ano que se foi.
Ainda ontem me vi sozinho, porque os amigos se foram e se vão, eles sempre vão, por mais que eu tente incessantemente trazê-los e mantê-los como um imã, para evitar a brisa temerosa de solidão, eles se vão. E se foram. E eu fiquei!
E então, na opcional solidão desesperadora, tentei enganar-me pensando que minha vida é meu trabalho e que como tal, não estou só, porque vivo para isto e blá, blá, blá. Por um momento acreditei na minha própria mentira e fiquei confortável brincando de casinha, numa casa que sequer é minha de verdade.
De repente, e talvez tenha sido a constatação a seguir o auge de meu desespero, percebi que arrumava as coisas pela casa sem parar. E que me comportava como em um comercial de Tv, onde as casas tilintam beleza ou ainda em um seriado norte-americano, onde morar sozinho é COOL.
No entanto, meu surto de organização não passava de uma tentativa patética e frustrada de tentar organizar minha vida, que parece estar perdida em meio a estes milhares de pensamentos que me questionam a todo momento qual o caminho do presente devo seguir para alcançar o futuro. Este futuro tão ambicionado que tarda cada vez mais a começar a se estruturar.
Assim, sentei em frente a Tv, tomando um copo de algo alcóollico e temi que aquele fosse o meu futuro, que ali estaria eu mais uns anos a frente. Pensei em ler, escrever. Desisti. Me acomodei e me calei. Não sei se cochilei ou encachacei. Acordei com um Haiti aos pedaços assim como eu e eu, que até outrora me sentia o centro do mundo em minhas lamentações, me senti ainda mais pequeno. Impotente!
A mesma impotência que sentia aquela menina negra deitada no chão, que olhava assustada para a câmera, era a minha ao olhar para ela e lamentar por não estar lá, ao lamentar por nunca ter me interessado por tudo aquilo, ao lamentar por minha arte ser tão pequeno burguesa e inexpressiva. Chorei sozinho.
Agora, aqui estou eu, de volta, depois de muito enrolar e me boicotar, eu e minha mediocridade estamos aqui, escrevendo estes parágrafos para sei lá quem, pensando se alguém chegará até as linhas finais de um texto longo como este. Ficamos aqui! Eu, minhas dúvidas e ambições. Eu e meus projetos sem concretude. Eu e esta minha solidão!
Botafogo, 16/01/10
(Imagem original de Cesar Huerta, encontrada na internet, remexida por mim)
Vamos ficar solitários juntos?
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