segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Palavras ao pé da orelha tua.

O que se fala quando se vê a pessoa amada repleta de inseguranças e esvaziada de criação? 
Na hora eu não disse nada. Porque tudo o que se fala naquela hora parece frase feita, parece coisa que sempre se fala.
Mas a fala dele me atravessa e talvez, por isso, na hora em que fala de suas angústias, sempre me cala, me somem as palavras, me foge a fala. 
Porque ver você assim, tão profundo, sentindo o cansaço disfarçado de 'não sinto nada', me faz pensar que tem, de fato, alguma coisa errada.
E o que seria essa coisa deslocada?
Não é nada.
Pois você, amor, é composto de matéria sensível e artística nata. Você exala uma criatividade que não se constrói do nada. Ela esta colada em você. Integrada em seus desenhos, a cada traço, no teu olhar minucioso, no teu jeito carinhoso, no teu sonho carnavalesco, nessa megalomania criativa que se faz imagem nessa cabeça de menino teimoso. Menino grande que segura nervoso este fio desencapado, epifania desenfreada, mas não a deixa estourar. Deixando a arte em um preguiçoso repouso.
Arriscar! É sempre a minha indicação.
Mas na bula da vida, eu já assumi esta contra-indicação.
Porém, há sempre lugar para mais um. Pois a vida de artista não é tão bonita não (Sabemos bem que não).
Mas você já entrou na contra-mão, do que era antes, do que se previa que fosse. 
Agora é preciso deixar vazar. Deixar escorrer esta arte que te transtorna. Colocá-la em prática.
De um jeito ou de outro, fazer dela sua adaga contra tudo e a favor de todos. 
Jogue o jogo da vida sem esquecer do tesouro que se esconde onde só não entram os tolos.
Tolos que vivem para comer, tolos que vivem sem saber, tolos que ganham para nada, tolos que aguardam a morte de uma vida retardada.
Jogue o jogo, mas não vire máquina. Dance a dança, sempre em busca da próxima balada.
Balada justa, balada pura, balada tua.
Amo você mesmo em tempos de vida dura. 
Pois se a arte antes imitava a vida, é porque ela era burra.
Viva a vida antes que ela te engula.
Faça arte no meio de quem te regula.
Resita, erga a cabeça, viva o sonho sem culpa.
Tome o tempo desta vida antes que ela fique murcha.


PS: Queria ser direto e objetivo, mas em tempos de desestrutura, que fique o texto como ficou, pois as palavras retas, sem curva, digo ao pé desta minha orelhinha , que é a tua.


26 de Setembro de 2011 (Saído do forno encefálico de Rodrigo Abreu)





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pobreza em 3 ângulos: Estudo sobre pobreza

Primeiro é sexta feira, tenho 26 anos, estou artista a procura de tudo. Sou um mundo parado por excesso de entulho. Sigo e vou, como os outros animais. Cultuando Amy Winehouse e tantos outros ancestrais.
Brincando de criança, entro na dança, Lapa, sarau. Bebo para esquecer, bebo para não ser, bebo para cantar, bebo para não estar, bebo para estragar - a noite, o dia, o outro, o corpo todo.
Bebi por quê? Pobreza de consolo?
Passam as horas, continuo mal, girando a cabeça lentamente para aliviar minha ressaca moral. Animal! Seu animal!
Dedo raspado, dente doído, boca inchada, tombo esquecido.
Porque a memória, inata, se cala para abafar a dor do mais do mesmo, do desapego, do peso e do desamor.
O mundo gira, o mundo passa, e aqui estou.
Me abraça, lá embaixo não resta nada. Boa noite! Meu corpo sobrou.
Imoral, sem moral, pobreza envergonhada, nada artístico todo este tanto de álcool etílico.
Depois é tarde clara de sol com caldeirada, Domingo na Baixada, pessoas desbloqueadas, em harmonia com um mundo que para mim é lugar aonde nunca vou.
Três andares tem a casa, um sem piso, laje, telhado, peixe frito, cerveja geladinha dentro do isopor.
Gente pobre, pobrezinha. Rica de vigor.
Música boa, tocam todas, funk, melody, charme, samba, hip hop, axé, forró e tambor.
A saia curta se rebola humanizada, tem peito alimentando a criança acordada, barulheira bem gritada, lixo escorrendo pela calçada, ônibus na beira da estrada: - O destino é metrô Pavuna, sim senhor.
Acaba assim, sem mais e sem nada. Ele, o homem, fala, fala, fala. E os alunos, pequeninos, acreditam na falácia. Pobreza de fomento, não se fala no desenvolvimento, planejamento é coisa que já passou.
A aula segue, segue o choro mudo e travado pelas palavras do dito professor.
Do que se fala, não fala nada. Vá embora jovem artista, utopia de produto, ingênuo sonhador.
Cala a vontade, espalha o desgaste, fala hipocrisia...
Disse antes e repito agora: - Tua fala é mais do mesmo, chega de tanto mau humor.
Chega, chega de palavras.
"Brasil não tem jeito nada", "Aqui tudo é difícil"
Pára, pára!!!
Não diz mais nada, tudo isso, toda fala, tudo que sai me cala e agora, mais um vez, me inojou.
Que surpresa! Que desgraça!
Não sei de mais nada!
Só sei que tudo isso que se passa, em mim, ainda não passou.

Rodrigo Abreu, escrito em 31 de agosto de 2011
(Resumo de situações da semana. Possíveis nomes para os fragmentos do texto: Sexta na Lapa, Festa na Baixada, Ao ilustre e amargurado pro(fessor)dutor. 

sábado, 3 de setembro de 2011

Ai, você...


Eu velejava em você
Não finja!
Como coisa que não me vê
E foge de mim...
A boca tremia,
Os olhos ardiam
Oh! Doce agonia
Oh! Dor de viver
De ver sua imagem
Que eu nunca via
Sua boca molhada
Seu olhar assanhado
Convite pra se perder
Minha alma cansada
Não faz cerimônia
Você pode entrar sem bater
Pois eu já velejei em você
E foi bom de doer
Mas foi, como sempre, um sonho
Tão longe, risonho
Sinto falta,
Queria lhe ver..

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Série Slow Motion (n. 7)

Andar no escuro a passos lentos é um tormento. Parece não ter fim o corredor. Como se a qualquer momento, bem lento, surgisse um monstro assombroso. Que suplício! Que horror! Chega deste escuro, chega de ser lento, acendo a luz e acaba o corredor.

Rodrigo Abreu, 31 de Agosto de 2011

Série Slow Motion (n. 6)

Andar a passos lentos,
no meu tempo,
sentindo o vento,
sem pavor.
É só andar a passos lentos,
olhar atento, corpo solto.
Andar a frente,
em passos lentos,
ir contra o tempo,
sentindo o centro do corpo inteiro.
Um corpo lento,
um andar intenso,
belo vigor.
Rodrigo Abreu, 30 de Agosto de 2011

Série Slow Motion (n. 5)

Tocar seu corpo, lento, lento, estranho e lento.
Sentindo milimetricamente este momento de encontro com teu corpo.
Ah, esse corpo! Que corpo.
Volúpia e fervor.
Calma, calma!
Pára...
Respira...
Toca lento, sempre lento.
Resiste intenso meu corpo no encontro com teu corpo.
Lento, lento, bem lento.
Muito, mas muito mais gostoso.
Rodrigo Abreu, 29 de Agosto de 2011.