Olha aquela pérola, que preciosidade!
Tamanha fragilidade teve de ser guardada em redoma calcificada, criada para lhe disfarçar.
Êta concha imponente, delicadamente construída e onduladamente infindável.
Um dia veio a onda e a levou, agora ostra, para conhecer o mar.
E assim foi ela à marejar, descobrindo horizontes, se expondo ao nadar.
Porém, sem perceber o mudar dos ventos, ela foi traída pelo sopro do tempo que movimentou as águas e tudo o mais que havia por lá.
A pobre ostra foi arrastada areia à fora, dolorosamente, como se fosse expulsa do mar.
Veio enfim um homem bronco, de barba branca e ares de velejador,
Olhando apenas para o azul à transbordar, ele pisou na concha, descuidado, que ali estava, na beira do mar.
Aquela casca se quebrou e só restou a pequenina pérola à lamentar.
E lá ficou ela, branca e pálida, feito donzela
Ai, que pena que me dá!
Mas parando bem para observar, ela, a pérola, me parece bem mais sincera agora
Do que aquela que andava à desfilar, escondidinha, lá pelas bandas do fundo do mar.
Foi por isso que vim-me embora
E a deixei para lá,
Sozinha,
De oferenda para Iemanjá.
Escrita em 30/11/06
Mais sincera sem seus muros de proteção, adorei a metáfora...rsrs
ResponderExcluirIemanjá me contou sobre esse dia! Gostou tanto da oferenda que disse que ia sempre abençoar os passos desse moço!
ResponderExcluir