segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Constatação da Fragilidade (Ou apenas Auto-Mar)

Olha aquela pérola, que preciosidade!

Tamanha fragilidade teve de ser guardada em redoma calcificada, criada para lhe disfarçar.

Êta concha imponente, delicadamente construída e onduladamente infindável.

Um dia veio a onda e a levou, agora ostra, para conhecer o mar.

E assim foi ela à marejar, descobrindo horizontes, se expondo ao nadar.

Porém, sem perceber o mudar dos ventos, ela foi traída pelo sopro do tempo que movimentou as águas e tudo o mais que havia por lá.

A pobre ostra foi arrastada areia à fora, dolorosamente, como se fosse expulsa do mar.

Veio enfim um homem bronco, de barba branca e ares de velejador,

Olhando apenas para o azul à transbordar, ele pisou na concha, descuidado, que ali estava, na beira do mar.

Aquela casca se quebrou e só restou a pequenina pérola à lamentar.

E lá ficou ela, branca e pálida, feito donzela

Ai, que pena que me dá!

Mas parando bem para observar, ela, a pérola, me parece bem mais sincera agora

Do que aquela que andava à desfilar, escondidinha, lá pelas bandas do fundo do mar.

Foi por isso que vim-me embora

E a deixei para lá,

Sozinha,

De oferenda para Iemanjá.


Escrita em 30/11/06

2 comentários:

  1. Mais sincera sem seus muros de proteção, adorei a metáfora...rsrs

    ResponderExcluir
  2. Luciana do Osvaldo5 de ago. de 2009, 00:35:00

    Iemanjá me contou sobre esse dia! Gostou tanto da oferenda que disse que ia sempre abençoar os passos desse moço!

    ResponderExcluir

Deixe seu grito após o bip!