segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pobreza em 3 ângulos: Estudo sobre pobreza

Primeiro é sexta feira, tenho 26 anos, estou artista a procura de tudo. Sou um mundo parado por excesso de entulho. Sigo e vou, como os outros animais. Cultuando Amy Winehouse e tantos outros ancestrais.
Brincando de criança, entro na dança, Lapa, sarau. Bebo para esquecer, bebo para não ser, bebo para cantar, bebo para não estar, bebo para estragar - a noite, o dia, o outro, o corpo todo.
Bebi por quê? Pobreza de consolo?
Passam as horas, continuo mal, girando a cabeça lentamente para aliviar minha ressaca moral. Animal! Seu animal!
Dedo raspado, dente doído, boca inchada, tombo esquecido.
Porque a memória, inata, se cala para abafar a dor do mais do mesmo, do desapego, do peso e do desamor.
O mundo gira, o mundo passa, e aqui estou.
Me abraça, lá embaixo não resta nada. Boa noite! Meu corpo sobrou.
Imoral, sem moral, pobreza envergonhada, nada artístico todo este tanto de álcool etílico.
Depois é tarde clara de sol com caldeirada, Domingo na Baixada, pessoas desbloqueadas, em harmonia com um mundo que para mim é lugar aonde nunca vou.
Três andares tem a casa, um sem piso, laje, telhado, peixe frito, cerveja geladinha dentro do isopor.
Gente pobre, pobrezinha. Rica de vigor.
Música boa, tocam todas, funk, melody, charme, samba, hip hop, axé, forró e tambor.
A saia curta se rebola humanizada, tem peito alimentando a criança acordada, barulheira bem gritada, lixo escorrendo pela calçada, ônibus na beira da estrada: - O destino é metrô Pavuna, sim senhor.
Acaba assim, sem mais e sem nada. Ele, o homem, fala, fala, fala. E os alunos, pequeninos, acreditam na falácia. Pobreza de fomento, não se fala no desenvolvimento, planejamento é coisa que já passou.
A aula segue, segue o choro mudo e travado pelas palavras do dito professor.
Do que se fala, não fala nada. Vá embora jovem artista, utopia de produto, ingênuo sonhador.
Cala a vontade, espalha o desgaste, fala hipocrisia...
Disse antes e repito agora: - Tua fala é mais do mesmo, chega de tanto mau humor.
Chega, chega de palavras.
"Brasil não tem jeito nada", "Aqui tudo é difícil"
Pára, pára!!!
Não diz mais nada, tudo isso, toda fala, tudo que sai me cala e agora, mais um vez, me inojou.
Que surpresa! Que desgraça!
Não sei de mais nada!
Só sei que tudo isso que se passa, em mim, ainda não passou.

Rodrigo Abreu, escrito em 31 de agosto de 2011
(Resumo de situações da semana. Possíveis nomes para os fragmentos do texto: Sexta na Lapa, Festa na Baixada, Ao ilustre e amargurado pro(fessor)dutor. 

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