segunda-feira, 12 de março de 2012

Um beijo, se cuida!

Aos poucos, como rascunho, os traços de você vão se esvaindo da memória. Não tenho mais precisão de cor, de linhas ou mesmo de ângulos do teu corpo. Some o rosto, a pele, a alma, a ÍNDOLE. Do passado fica o visgo que cobre verde musgo o muro sombrio. Muro de palavras caladas, muro de palavras resguardas, muros de palavras não ditas, muro de palavras nunca mais ditas. O 'você' voltou para os poemas exatamente por te conter cada vez menos dentro dele. Eu te amei como nunca, jamais, amei ninguém e no fim, você me desprezou. Agora, esse amor vai virando água em meu corpo, suor da pele, secaram as lágrimas, urina, vômito, linfopatia. Você se esvai aos poucos, orgânico, sem dor. Me emagrece, fingindo-se humano. Isso tudo é desamor. De você vai restando um pouco. E do que resta, guardo em pote, a poeira sagrada de tamanha dor. Vá com Deus rascunho, me deixe história, lápis, borracha e papel, por favor!

sábado, 10 de março de 2012

A inesperada bolha de sabão que não se estourou

Ainda ontem, em meio ao caos da cidade barulhenta, entre nós passou uma lumicolor bolha de sabão, inusitada, inesperada bolha de sabão que nos interpelou. Dentro da bolha, flutuando leve feito mágica, eram mirantes, conversas, sucos, vistas, toques, cartas, beijos, carinhos, toques, lembranças, reencontros, palavras, olhos, olhares, cachorros, vizinhos, motos, paulas, sammaras, banhos, sanduíches, cookies, torradas, músicas, carinhos, cuidados e um anjo protetor. A bolha suspendeu, mas não se estourou.


Meu agradecimento para você, em 10/03/12.
Rodrigo Abreu

sexta-feira, 9 de março de 2012

Amor à mais

No fim, fica a receita de um amor ainda maior. A possibilidade de amar cada vez mais e mais. Cada vez mais lento e suave e sereno amor. Sem peso, sem dor. Só amor e cuidado. Amor e carinho. Amor e admiração. Por que amor em mim é muito. Amor em mim é tudo. Amor em mim é intenso e vaza. Amor em mim não se estraga. O amor que ofereci sem nem perceber. O amor que tanto temi. Todo esse amor que um dia pensei me oprimir. Esse amor não azedou. Esse todo, esse tão grande amor, é agora o mais doce e o mais puro de todo o meu mais cristalino amor. O coração de hoje ama mais assumidamente agora do que um dia já amou.

É chegada a hora em que o corpo cansa

Chega um hora que cansam as palavras. Cansa poetizar tanta porrada. Que cansa o decepcionar. Que cansa a falta de cuidado. Que cansa forçar-se bem estar. Que cansa superar. Chega uma hora que cansa respirar. Chega uma hora que cansa pessoas. Chega uma hora que cansa pensar. Que cansa respirar. Cansa sentir. Cansar amar. Cansa desamar. Cansa aqui estar.

domingo, 4 de março de 2012

Se liga, seu babaca!

Ei, acho que já chega de tanta palhaçada. Pega esse coração de acrílico e joga na privada. Será que já não chegam todas essas palavras. Preservação já virou palavra antiquada. A hora agora é da virada. A história está mais do que continuada e você aí, ainda aí, no meio mais de buscar conversas de meias palavras. Que acreditar em quê? Acreditar em nada mais, mais nada. O que se foi, foi de lavada. Agora deixa a água lavar de vez, solta esse mar, deixa a cascata correr cristalizada. Mata no peito esse resto do que ainda te mata. Mata do peito esse e isso e aquilo e o outro e o todo disso tudo tão sem graça. Esquece, suja, rasga, apaga. Lava a cara e vai em disparada. Haja verdade para tanta vaidade alimentada. Bloqueia do orgulho o acesso a tua sincera alma, ainda, até ontem, sutilmente esperançada. Olha pra frente, não veja nada. Olha pra frente, esquece e passa. Olha pra frente e lembra: Passa! Olha pra frente e lembra: Tudo passa! Já passou! Passou! Passa... pas... pa... p...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Pesquisa Artística Medéia - A Separação

Desaniversário de 4 anos e 8 meses de namoro

Em meio a noite de sonhos conturbados nos abraçamos desnudos num abraço de comemoração calado. Éramos dois épicos bardos cercados de cuidado por todos os lados. Sentia o calor da tua carne suada. Na vista o tom sépia da tua pele flamejava. Éramos eu, você e mais nada. Comemorávamos os anos de uma vida convivida, de uma vida abençoada. Comemorávamos o amor que espremido em forte abraço latejava. Acordei do sonho, acabou o sono, parede esbranquiçada. Que dia é hoje? Hoje é o dia em que não se comemora mais nada!