quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Última Cena


E no fim, o que resta?
Um silêncio, um rosto amargurado
Um descaso, uma decepção

Não há sorrisos
Só mágoas e este gosto azedo
Este som irritante do nada

As palmas esperam-no todo
Ele não está
O fim não saiu

Tudo acaba
E a flor de amor, roubada
Vira flor murcha, carmim

Um sangue fraco no pulso
A porta fechada
Um fim, sem fim

Em 25/08/09

Botafogo, 10 (Outubro, 09)


Estou amadurecendo
Relendo minhas lembranças
Afastando o sono
Anotando os sonhos
Caminhando

Há milhões de palavras empilhadas
Idéias a desvendar
E o corredor que me trouxe até aqui
Só tem porta de entrada
Sem portas de emergência e de saída

O mundo me penetra
Ganha espaço em meu pensar
A ânsia arde
Eu chorando, urro
A vinda é um arremate profundo

Sou o que desabrocha
O que se aventura
Rumo para o futuro
Esse susto
Supero meus medos deitado no escuro

Crescer é bruto
Estou vivendo
A estrada é longa e difusa
Marco o espaço de quem perpetua
Deixo aqui minha assinatura

Em 10/10/09

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O que se pensa


Não sirvo para você
O que se faz é pouco
O que se fez, nada
A alegria não vale à pena
A tristeza dorme aqui em casa
Você, o enganado
Eu, a farsa
O mundo um escuro
Um futuro de informática
Um garoto vazio
Alguém que não vale lágrima chorada
Universos de palavras caladas
A desculpa não dada
O adeus repartido
O silêncio de quem não deve falar nada

Em 13/10/09


O que se sente


São tantos os pesamentos
Um mix de cores
Que girando, vira um vazio branco
Não sei o que se pensar

Há um soco no centro do corpo
Há mais um grito não gritado
Há a felicidade destroçada
Há mais do tudo que com a chuva virou nada

Virei o plano rasgado
O perfeito falsário
O futuro desengonçado
O vilão, Iago, o malvado

Em 13/10/09

sábado, 3 de outubro de 2009

História fragmentada de fragmentos apagados


Faço coisas para esquecê-las
Andanças na rua escura
Corpos vazios
Palavras frias e sujas
Cartas, cadernos, escritas
Desenhos e ilusões
Luxúrias
Já não me lembro mais
Do quê?!
Já se foi
Fragmentou
Sem acesso
Restrito

Silêncio secreto
Sombrio
Falha de memória
Um lapso
Sombra
Caráter?!
Foi embora com as horas vividas
Com as imagens carcomidas
Tudo perdido entre as roupas desarrumadas
A coisa entre as coisas
Encolhidas
Perdidas, esquecidas, espalhadas
Tudo às escondidas

Por que apagar aquilo que ao acontecer nunca existiu?

Há de ser coisa pensada
Já não lembro de quase nada
Quem sabe um dia rascunho um livro...
Ou uma enciclopédia ilustrada
Quem sabe um dia coisas no lixo...
Quem sabe daquele que não sabe mais de nada?!

Escrito em 01/10/09 (depois de Abraços Partidos/ Almodóvar)

Amanhecimentos


Não dormi
Então não era sonho
Mas também não acordei
Tudo isso será um sonho?!

No frágil banco de madeira
São dois olhando o horizonte
Sol nascendo no meio
Uma cidade que se comemora

De um lado as paredes
Deste lado, o mar
A areia cinza
A areia clara
A concreta
E a fofa

Como em um clipe
Ou como no sonho
Que não sabe se é sonho
Correm duas ninfas loiras
Correm filhas do amanhecer
Gargalham, sorriem, posam
São duas gaivotas exibidas

Chega ele
Com sua máquina da eternidade
Congela os momentos em fotos
As guarda
Torna cor em lembrança
Faz sonho virar quadro
Pintura, sonhografia

Somos todos gravuras
E este o lugar do novo dia
Tudo nos emoldura
Os dois no banco
O sol ao fundo
O horizonte rubro
O mar profundo

Escrito hoje, 03/10/09, em homenagem ao Dé e ao amanhecer.